Olá, eu sou o Dr. Rodrigo Braz, médico urologista, especialista em cirurgias minimamente invasivas e neste artigo vamos falar tudo sobre LEUCOCITÚRIA.
A LEUCOCITÚRIA é um achado laboratorial extremamente comum, presente em exames de urina de milhões de brasileiros anualmente. Trata-se da presença aumentada de leucócitos (células de defesa do organismo) na urina, o que pode indicar desde processos inflamatórios simples até infecções urinárias potencialmente graves.
Apesar de ser um termo técnico pouco conhecido pelo público geral, a LEUCOCITÚRIA é um dos achados mais frequentes em laboratórios de análises clínicas e merece atenção especial, tanto dos pacientes quanto dos profissionais de saúde.
O que é?
A LEUCOCITÚRIA é definida como a presença de um número elevado de leucócitos (glóbulos brancos) na urina. Em termos técnicos, considera-se LEUCOCITÚRIA significativa quando são encontrados mais de 10 leucócitos por campo de grande aumento (400x) no exame microscópico do sedimento urinário. Alguns laboratórios também expressam este resultado em número de células por mililitro de urina, considerando valores acima de 10.000 leucócitos/mL como positivos para LEUCOCITÚRIA.
Os leucócitos são células de defesa do sistema imunológico que migram para regiões onde há infecção ou inflamação. Quando presentes na urina em quantidades elevadas, geralmente indicam uma resposta do organismo a algum processo inflamatório ou infeccioso no trato urinário.
Epidemiologia no Brasil
No contexto brasileiro, os dados sobre a prevalência de LEUCOCITÚRIA são significativos:
- Estima-se que aproximadamente 20-25% de todos os exames de urina realizados no Brasil apresentem algum grau de LEUCOCITÚRIA
- As infecções do trato urinário (ITU), principal causa de LEUCOCITÚRIA, afetam cerca de 150 milhões de pessoas anualmente no país
- Mulheres são mais acometidas, com uma incidência 30 vezes maior que homens, devido a fatores anatômicos
- Aproximadamente 50-60% das mulheres terão pelo menos um episódio de ITU com LEUCOCITÚRIA ao longo da vida
- No sistema público de saúde, as ITUs representam a segunda causa mais comum de prescrição de antibióticos, ficando atrás apenas das infecções respiratórias
- O custo estimado para o tratamento de ITUs no Brasil ultrapassa R$ 500 milhões anuais, considerando consultas, exames, medicamentos e hospitalizações
Principais Causas
A LEUCOCITÚRIA pode ser ocasionada por diversas condições, que podem ser divididas em três grandes grupos:
1. Causas Infecciosas:
- Infecção do trato urinário (ITU): Principal causa de LEUCOCITÚRIA, pode afetar qualquer parte do sistema urinário (uretrite, cistite, pielonefrite, prostatite)
- Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs): Clamídia, gonorreia e tricomoníase podem causar LEUCOCITÚRIA
- Tuberculose geniturinária: Forma extrapulmonar da tuberculose que pode afetar rins e trato urinário
- Esquistossomose urinária: Em regiões endêmicas, pode levar à LEUCOCITÚRIA crônica
2. Causas Inflamatórias Não-Infecciosas:
- Nefrite intersticial: Inflamação do tecido renal que pode ser causada por medicamentos ou doenças autoimunes
- Cistite intersticial/Síndrome da bexiga dolorosa: Condição crônica que causa inflamação da bexiga
- Urolitíase (cálculos urinários): A irritação causada por cálculos pode gerar LEUCOCITÚRIA
- Prostatite abacteriana: Inflamação da próstata sem infecção detectável
- Reação a medicamentos: Alguns fármacos podem causar inflamação no trato urinário
3. Outras Causas:
- Contaminação da amostra: Coleta inadequada, especialmente em mulheres
- Tumores do trato urinário: Câncer de bexiga, rim ou próstata podem causar LEUCOCITÚRIA
- Trauma urológico: Cateterismo vesical, procedimentos endoscópicos
- Exercício físico intenso: Em alguns casos, exercícios extenuantes podem causar LEUCOCITÚRIA transitória
- Leucocitúria estéril por tuberculose: Presença de leucócitos sem bactérias detectáveis na cultura convencional
Sintomas Associados
É importante destacar que a LEUCOCITÚRIA em si não é um sintoma, mas um achado laboratorial. No entanto, dependendo da causa subjacente, pode estar associada a diversos sintomas:
- Disúria: Dor ou ardência ao urinar
- Polaciúria: Aumento da frequência urinária
- Urgência miccional: Vontade súbita e inadiável de urinar
- Hematúria: Presença de sangue na urina
- Dor suprapúbica: Desconforto na região inferior do abdome
- Dor lombar: Principalmente em casos de pielonefrite
- Febre e calafrios: Em infecções mais graves
- Urina turva e com odor forte
- Dor durante relações sexuais
Em alguns casos, principalmente em idosos ou pacientes com diabetes, a LEUCOCITÚRIA pode ocorrer sem sintomas evidentes, o que é conhecido como LEUCOCITÚRIA assintomática.
O diagnóstico da LEUCOCITÚRIA é feito através da análise da urina, que pode incluir:
1. Exame de Urina Tipo I (EAS):
Este é o exame mais comum para sua detecção. Inclui:
- Análise física: Avaliação da cor, aspecto, odor e densidade da urina
- Análise química: Utiliza fitas reagentes que detectam a presença de leucócitos através da identificação da enzima esterase leucocitária
- Análise microscópica: Contagem de leucócitos no sedimento urinário
2. Urocultura:
Quando a LEUCOCITÚRIA é detectada, é comum solicitar uma urocultura para:
- Identificar o microorganismo responsável pela infecção
- Determinar a sensibilidade bacteriana a antibióticos
- Quantificar o crescimento bacteriano (contagem de colônias)
3. Exames Complementares:
Dependendo do contexto clínico, outros exames podem ser necessários:
- Ultrassonografia do trato urinário: Para avaliar rins, ureteres e bexiga
- Tomografia computadorizada: Em casos de suspeita de cálculos, tumores ou anomalias anatômicas
- Cistoscopia: Exame endoscópico da bexiga
- Exames específicos para ISTs: PCR para clamídia e gonorreia, por exemplo
- Culturas específicas para tuberculose: Quando há suspeita de tuberculose geniturinária
Leucocitúria sem Bactérias: O Que Significa?
Um fenômeno comum e muitas vezes confuso é a presença de LEUCOCITÚRIA sem crescimento bacteriano na urocultura, conhecida como LEUCOCITÚRIA estéril. Entre as possíveis causas estão:
- Antibioticoterapia prévia: O uso recente de antibióticos pode impedir o crescimento bacteriano na cultura
- Infecções por microorganismos não convencionais: Como Chlamydia, Mycoplasma, Ureaplasma ou Mycobacterium tuberculosis
- Inflamação não infecciosa: Cistite intersticial, nefrite, reação a medicamentos
- Cálculos urinários: Causam irritação e inflamação das vias urinárias
- Tumores do trato urinário: Podem induzir resposta inflamatória
- Técnica inadequada de coleta ou processamento: Problemas na preservação da amostra
- Infecção em resolução: Fase final de uma infecção em tratamento
Nestes casos, uma investigação mais detalhada pode ser necessária para determinar a causa subjacente.
O tratamento da LEUCOCITÚRIA deve ser direcionado à causa subjacente, e não ao achado laboratorial em si. As abordagens mais comuns incluem:
Para Causas Infecciosas:
- Antibioticoterapia: Selecionada com base no antibiograma, quando disponível, ou empiricamente segundo protocolos clínicos
- Duração do tratamento: Varia de 3 dias (cistite não complicada) a 14 dias ou mais (pielonefrite, prostatite)
- Tratamento específico para ISTs: Seguindo protocolos do Ministério da Saúde
- Tuberculostáticos: Em casos de tuberculose geniturinária, com tratamento prolongado (6 meses ou mais)
Para Causas Inflamatórias Não-Infecciosas:
- Anti-inflamatórios: Em casos selecionados
- Suspensão de medicamentos que possam estar causando reação adversa
- Hidratação: Aumentar a ingestão de líquidos
- Tratamentos específicos para cistite intersticial: Instilações vesicais, neuromodulação, medicações orais
Para Causas Estruturais:
- Tratamento de cálculos urinários: Desde medidas clínicas até procedimentos cirúrgicos
- Abordagem de tumores: Tratamento específico conforme diagnóstico histopatológico
- Correção de anomalias anatômicas: Cirurgia quando indicada
Assintomática:
- Em geral, LEUCOCITÚRIA assintomática isolada sem outras alterações laboratoriais não requer tratamento específico
- Exceção para grupos de risco: gestantes, pacientes imunossuprimidos, diabéticos mal controlados e crianças com alterações anatômicas do trato urinário
Considerando que a principal causa de LEUCOCITÚRIA são as infecções urinárias, algumas medidas preventivas incluem:
- Hidratação adequada: Ingerir pelo menos 2 litros de água por dia
- Micção pós-coito: Urinar após relações sexuais para eliminar bactérias que possam ter entrado na uretra
- Higiene íntima adequada: Limpar-se no sentido da frente para trás (mulheres)
- Evitar retenção urinária prolongada: Não “segurar” a urina por longos períodos
- Uso de cranberry: Alguns estudos sugerem benefício na prevenção de ITUs recorrentes
- Probióticos vaginais: Para restaurar a flora vaginal saudável
- Controle adequado de doenças crônicas: Especialmente diabetes
- Uso de estrogênios tópicos: Em mulheres na pós-menopausa, quando indicado
- Evitar produtos irritantes: Sabonetes perfumados, duchas vaginais, etc.
Quando a Leucocitúria é Grave?
Algumas situações requerem atenção especial e avaliação médica imediata:
- associada a febre alta e calafrios
- Presença de dor lombar intensa
- Em gestantes
- Em pacientes com anomalias urológicas conhecidas
- Persistente após tratamento adequado
- Em pacientes imunossuprimidos
- Associada a hematúria significativa
- Em crianças pequenas
Mitos e Verdades sobre a Leucocitúria
Existem muitas informações equivocadas sobre a LEUCOCITÚRIA. Vamos esclarecer algumas:
Mito: Toda LEUCOCITÚRIA significa infecção urinária.
Verdade: Nem sempre. Existem causas não infecciosas de LEUCOCITÚRIA.
Mito: LEUCOCITÚRIA sempre causa sintomas. Verdade: A LEUCOCITÚRIA pode ser assintomática, especialmente em idosos e diabéticos.
Mito: Antibióticos são sempre necessários no tratamento da LEUCOCITÚRIA. Verdade: Apenas quando há infecção bacteriana confirmada ou fortemente suspeitada.
Mito: Beber muita água “limpa” a LEUCOCITÚRIA. Verdade: Embora a hidratação seja importante na prevenção e como adjuvante no tratamento, ela não substitui o tratamento específico da causa.
Mito: LEUCOCITÚRIA pode ser causada por alimentos ácidos como limão ou abacaxi. Verdade: A dieta não causa diretamente LEUCOCITÚRIA, embora alguns alimentos possam irritar a bexiga e agravar sintomas em pessoas com cistite intersticial.
A LEUCOCITÚRIA é um achado laboratorial comum que pode indicar diversas condições, desde infecções simples até problemas mais complexos. É importante não tratar apenas o “exame alterado”, mas buscar a causa subjacente da LEUCOCITÚRIA para estabelecer o tratamento adequado.
Na maioria dos casos, quando associada a infecções urinárias, a LEUCOCITÚRIA responde bem ao tratamento apropriado. No entanto, quadros recorrentes ou persistentes merecem investigação mais detalhada para identificar fatores predisponentes ou condições crônicas que possam estar contribuindo para o problema.
Se você identificou a presença de LEUCOCITÚRIA em seus exames ou apresenta sintomas urinários que possam estar relacionados a esta condição, é fundamental buscar avaliação médica especializada para um diagnóstico preciso e tratamento adequado.
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