Olá, eu sou o Dr. Rodrigo Braz, médico urologista, especialista em cirurgias minimamente invasivas e neste artigo vamos falar tudo sobre HIDROCELE.
A HIDROCELE é uma condição relativamente comum que afeta o saco escrotal masculino, caracterizada pelo acúmulo anormal de líquido seroso entre as camadas da túnica vaginal, membrana que envolve os testículos.
Embora geralmente benigna, a HIDROCELE pode causar desconforto significativo, constrangimento social e, em alguns casos, complicações que requerem intervenção médica. Este artigo aborda de forma abrangente as causas, sintomas, diagnóstico e opções de tratamento para a HIDROCELE, oferecendo informações baseadas em evidências científicas e experiência clínica.
O que é Hidrocele e como ela se desenvolve?
A HIDROCELE consiste no acúmulo excessivo de líquido seroso no espaço entre as camadas parietal e visceral da túnica vaginal testicular. Esse líquido, normalmente presente em pequenas quantidades para lubrificação, pode se acumular por diferentes razões, levando à formação de um “saco” cheio de líquido que envolve o testículo.
Existem dois tipos principais de HIDROCELE:
1. HIDROCELE Congênita: Presente ao nascimento, resulta da falha no fechamento do processo vaginal durante o desenvolvimento fetal. Durante o desenvolvimento, os testículos descem da cavidade abdominal para o escroto através do canal inguinal, carregando consigo uma extensão do peritônio chamada processo vaginal. Normalmente, este processo se fecha após a descida testicular, mas quando permanece aberto, pode permitir a passagem de líquido peritoneal, resultando em HIDROCELE.
2. HIDROCELE Adquirida: Desenvolve-se após o nascimento, geralmente na idade adulta, e pode ser classificada como:
- Primária: Surge sem causa aparente, frequentemente associada ao envelhecimento e alterações na drenagem linfática escrotal
- Secundária: Resulta de inflamação, trauma, infecção ou tumores testiculares
Epidemiologia da Hidrocele no Brasil
No contexto brasileiro, temos alguns dados epidemiológicos relevantes sobre a HIDROCELE:
- A HIDROCELE congênita afeta aproximadamente 1-2% dos recém-nascidos do sexo masculino, sendo mais comum em bebês prematuros
- Estima-se que cerca de 1 em cada 50-100 homens adultos desenvolverá alguma forma de HIDROCELE ao longo da vida
- Em áreas endêmicas para filariose linfática (principalmente em regiões do Nordeste brasileiro), a HIDROCELE pode afetar até 40% dos homens adultos em algumas comunidades
- De acordo com dados do DATASUS, são realizadas aproximadamente 15.000 hidrocelectomias (cirurgias para correção de HIDROCELE) anualmente no Sistema Único de Saúde brasileiro
- A incidência aumenta significativamente após os 40 anos de idade, com pico entre 60-70 anos
Causas e Fatores de Risco para Hidrocele
As causas da HIDROCELE variam de acordo com o tipo e a faixa etária, incluindo:
Em Recém-nascidos e Crianças:
- Persistência do processo vaginal (causa congênita mais comum)
- Trauma durante o parto
- Torção testicular neonatal
- Infecções perinatais
Em Adultos:
- Inflamação do epidídimo ou testículo (epididimite ou orquite)
- Trauma escrotal
- Radioterapia para câncer pélvico
- Infecções, como tuberculose geniturinária
- Tumores testiculares (a HIDROCELE pode ser o primeiro sinal de malignidade)
- Cirurgias prévias na região inguinal ou escrotal
- Infecção por Wuchereria bancrofti (filariose linfática), principalmente em áreas endêmicas
- Diminuição da drenagem linfática devido ao envelhecimento
Sinais e Sintomas da Hidrocele
A apresentação clínica da HIDROCELE pode variar desde um aumento indolor do volume escrotal até condições dolorosas que afetam significativamente a qualidade de vida. Os principais sinais e sintomas incluem:
- Aumento do volume escrotal: Geralmente unilateral, mas pode ser bilateral em até 30% dos casos
- Assimetria escrotal: Diferença visível entre os hemiscrototos
- Sensação de peso: Desconforto que piora ao final do dia ou após atividade física
- Dor ou desconforto: Geralmente ausente em HIDROCELES pequenas, mas pode ocorrer quando há grande volume
- Transluminação positiva: A bolsa escrotal transmite luz quando iluminada, característica clássica da HIDROCELE
- Flutuação à palpação: Sensação de líquido ao examinar o escroto
- Dificuldade para atividades sexuais: Em casos volumosos
- Constrangimento social: Impacto psicológico devido ao volume aumentado do escroto
- Dificuldade na higiene íntima: Em casos muito volumosos
É importante ressaltar que a HIDROCELE típica não causa febre, vermelhidão intensa ou dor aguda. A presença desses sintomas sugere complicações ou outras condições, como infecção ou torção testicular, que requerem atenção médica urgente.
Diagnóstico da Hidrocele
O diagnóstico da HIDROCELE geralmente é clínico, baseado na história do paciente e exame físico, mas pode ser complementado por exames de imagem:
Exame Físico:
- Inspeção visual do escroto para avaliar aumento de volume e assimetria
- Palpação para determinar consistência, sensibilidade e presença do testículo
- Teste de transluminação: Uma característica distintiva da HIDROCELE é transmitir luz quando uma fonte luminosa é aplicada ao escroto
- Avaliação do cordão espermático e região inguinal para descartar hérnias associadas
Exames Complementares:
- Ultrassonografia escrotal: Exame de escolha para confirmar o diagnóstico e descartar outras condições, como tumores ou epididimite
- Ultrassonografia com Doppler: Para avaliar a perfusão vascular testicular quando há suspeita de complicações
- Exames laboratoriais: Em casos suspeitos de infecção ou outras causas secundárias
Diagnóstico Diferencial
É essencial diferenciar a HIDROCELE de outras condições escrotais, como:
- Hérnia inguinoescrotal
- Varicocele
- Espermatocele
- Epididimite
- Orquite
- Tumor testicular
- Torção testicular
- Hematocele (acúmulo de sangue no escroto)
O tratamento da HIDROCELE depende de diversos fatores, incluindo a idade do paciente, a causa subjacente, o tamanho da HIDROCELE e a presença de sintomas:
Conduta Expectante (Observação):
- Indicada para HIDROCELES pequenas, assintomáticas
- Recomendada para HIDROCELES congênitas em crianças menores de 2 anos, pois muitas resolvem espontaneamente
Aspiração com Escleroterapia:
- Procedimento minimamente invasivo que consiste na punção da HIDROCELE com uma agulha para drenar o líquido, seguida pela injeção de um agente esclerosante
- Menos invasivo que a cirurgia, mas com taxa de recorrência de 25-50%
- Pode ser uma opção para pacientes idosos ou com comorbidades significativas
- Agentes esclerosantes incluem tetraciclina, doxiciclina, álcool ou solução hipertônica
Tratamento Cirúrgico (Hidrocelectomia):
Considerado o tratamento definitivo, com taxa de sucesso superior a 95%
Técnicas cirúrgicas incluem:
- Técnica de Jaboulay: Eversão da túnica vaginal
- Técnica de Lord: Plicatura da túnica vaginal
- Técnica de Winkelmann: Ressecção parcial e eversão da túnica
- Abordagem inguinal: Especialmente em crianças com HIDROCELE comunicante
Em crianças, a correção cirúrgica é indicada se a HIDROCELE persistir além dos 2 anos de idade ou se houver suspeita de hérnia associada. Em adultos, a cirurgia é recomendada quando há sintomas, desconforto ou quando o tamanho da HIDROCELE interfere nas atividades diárias.
Como especialista em cirurgias minimamente invasivas, devo ressaltar que existem técnicas modernas para o tratamento da HIDROCELE que oferecem vantagens significativas:
- Hidrocelectomia por mini-incisão: Utiliza incisões menores que as técnicas tradicionais
- Hidrocelectomia endoscópica: Em casos selecionados, especialmente quando há componente inguinal associado
- Técnicas com preservação linfática: Reduzem o risco de complicações como o linfedema escrotal
Estas abordagens minimamente invasivas estão associadas a:
- Menor dor pós-operatória
- Recuperação mais rápida
- Resultados estéticos superiores
- Menor taxa de complicações como hematoma e infecção
Recuperação Pós-Cirúrgica
Após a cirurgia para correção de HIDROCELE, os pacientes devem seguir algumas recomendações:
- Repouso relativo por 48-72 horas
- Uso de suspensório escrotal por 1-2 semanas
- Evitar atividades físicas intensas por 3-4 semanas
- Manter a higiene adequada da região operada
- Uso de analgésicos conforme prescrito
- Retorno ao trabalho geralmente em 7-14 dias, dependendo da atividade
A maioria dos pacientes apresenta recuperação completa em aproximadamente 4-6 semanas, com excelentes resultados estéticos e funcionais.
Embora a HIDROCELE seja geralmente benigna, complicações podem ocorrer, tanto da condição em si quanto dos procedimentos terapêuticos:
Complicações da Hidrocele não tratada:
- Atrofia testicular por compressão prolongada (rara)
- Dificuldade para relações sexuais
- Problemas psicossociais devido à aparência
- Ruptura espontânea (extremamente rara)
Complicações do tratamento:
- Hematoma escrotal (5-10% dos casos cirúrgicos)
- Infecção da ferida operatória (1-5%)
- Recidiva da HIDROCELE (2-5%)
- Lesão do testículo ou epidídimo durante o procedimento (rara)
- Dor crônica pós-operatória (2-3%)
- Linfedema escrotal
Embora nem todos os casos de HIDROCELE possam ser prevenidos, algumas medidas podem reduzir o risco:
- Tratamento adequado e precoce de infecções testiculares e epididimárias
- Proteção adequada da região genital durante atividades esportivas para prevenir traumas
- Em áreas endêmicas para filariose linfática, participação em programas de controle da doença
- Seguimento regular com urologista em pacientes com fatores de risco
Quando Procurar Atendimento Médico
É recomendável buscar avaliação médica nas seguintes situações:
- Aumento súbito do volume escrotal
- Dor escrotal moderada a intensa
- HIDROCELE que aumenta progressivamente de tamanho
- Desconforto que interfere nas atividades diárias
- Preocupação com a aparência do escroto
- HIDROCELE associada a sintomas urinários
- Febre ou vermelhidão na região escrotal
A HIDROCELE é uma condição urológica comum que, embora geralmente benigna, pode causar desconforto significativo e impacto na qualidade de vida. O diagnóstico correto e a diferenciação de outras patologias escrotais são essenciais para o manejo adequado.
As opções de tratamento variam desde a conduta expectante até procedimentos cirúrgicos, dependendo da idade do paciente, causa subjacente e gravidade dos sintomas. A cirurgia, especialmente quando realizada com técnicas minimamente invasivas, oferece excelentes resultados com baixas taxas de complicações e recidivas.
Se você identificou sintomas de HIDROCELE ou tem dúvidas sobre alterações no volume escrotal, é importante buscar avaliação médica especializada. Um diagnóstico precoce e tratamento adequado podem prevenir complicações e garantir melhores resultados.
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Respostas de 3
Parabéns, uma das melhores publicações sobre HIDROCELE, sem termos complicados, tudo explicado com clareza e objetividade. O que me causa espanto é não existir tratamento medicamentoso.
Olá, Domingos Sávio!
Muito obrigado pelo reconhecimento e pelo seu comentário tão gentil! Fico feliz que o conteúdo tenha sido útil e fácil de entender.
De fato, a hidrocele, embora seja uma condição relativamente simples em muitos casos, não possui um tratamento medicamentoso eficaz atualmente. O manejo geralmente envolve a observação nos casos assintomáticos ou a correção cirúrgica (hidrocelectomia) quando há sintomas ou desconfortos maiores. Isso se deve à própria natureza da condição, já que o líquido acumulado ao redor do testículo não pode ser eliminado por medicamentos.
Se tiver mais dúvidas ou precisar de mais informações, fico à disposição para ajudá-lo!
Atenciosamente,
Dr. Rodrigo Braz de Queiroz
Urologista – Cirurgia Robótica
Grato pela resposta. Meu urologista, aqui em Fortaleza, dr. Napoleão Novais Neves, após verificar resultados de exames solicitados, me afirmou que tudo estava bem, mas sinto aumento do volume escrotal e incômodos. Penso em retornar à ele.