Olá, eu sou o Dr. Rodrigo Braz, médico urologista, especialista em cirurgias minimamente invasivas e neste artigo vamos falar tudo sobre RTU DE BEXIGA.
A RTU DE BEXIGA, ou Ressecção Transuretral de Bexiga, é um procedimento cirúrgico minimamente invasivo fundamental no tratamento de diversas condições da bexiga, especialmente no câncer de bexiga não-músculo invasivo.
Embora não seja amplamente conhecida pelo público em geral, a RTU DE BEXIGA é uma das cirurgias urológicas mais realizadas no Brasil e no mundo, representando não apenas uma ferramenta diagnóstica, mas também terapêutica. Vamos explorar a fundo o que é esse procedimento, suas indicações, como é realizado, os cuidados necessários e o que esperar durante a recuperação.
O Que é a RTU de Bexiga?
A RTU DE BEXIGA (Ressecção Transuretral de Bexiga) é um procedimento cirúrgico minimamente invasivo realizado através da uretra, sem necessidade de incisões externas. Durante o procedimento, o urologista utiliza um instrumento chamado ressectoscópio, que é inserido pela uretra até alcançar a bexiga. Este instrumento permite:
- Visualizar o interior da bexiga com alta definição
- Identificar lesões ou tumores
- Remover (ressecar) tecidos anormais
- Cauterizar pequenos vasos sanguíneos para controlar sangramento
- Coletar amostras para análise patológica
A cirurgia é realizada sob anestesia (geral ou raquidiana) e, por ser minimamente invasiva, geralmente requer internação hospitalar curta, de 24 a 48 horas.
Principais Indicações da RTU de Bexiga
A RTU DE BEXIGA é indicada principalmente nas seguintes situações:
- Tumores de Bexiga: É o procedimento padrão-ouro para diagnóstico e tratamento inicial do câncer de bexiga não-músculo invasivo. Permite a remoção do tumor e estadiamento da doença.
- Lesões Suspeitas: Quando exames de imagem ou cistoscopia identificam lesões que precisam ser avaliadas.
- Hematúria Persistente: Em casos de sangue na urina sem causa definida após investigação inicial.
- Biópsia da Bexiga: Para coletar amostras de tecido quando há suspeita de carcinoma in situ ou outras condições.
- Tratamento de Lesões Benignas: Como pólipos, papilomas ou outras lesões não cancerígenas.
O câncer de bexiga, principal condição que leva à realização da RTU DE BEXIGA, apresenta dados epidemiológicos significativos no Brasil:
- Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), são estimados aproximadamente 10.640 novos casos de câncer de bexiga por ano no Brasil.
- É o quarto tipo de câncer mais comum em homens e o oitavo em mulheres.
- A incidência é maior em homens, numa proporção de 3:1 em relação às mulheres.
- Cerca de 75% dos casos são diagnosticados em estágio inicial (não-músculo invasivo), quando a RTU DE BEXIGA é o tratamento de escolha.
- A taxa de sobrevida em 5 anos para tumores não-músculo invasivos é superior a 90% quando tratados adequadamente com RTU DE BEXIGA seguida de terapias adjuvantes quando indicadas.
A RTU DE BEXIGA é um procedimento que combina alta tecnologia com a habilidade do cirurgião urologista. As etapas do procedimento incluem:
- Preparação e Anestesia:
- O paciente é posicionado em litotomia (decúbito dorsal com pernas elevadas e afastadas).
- É realizada a anestesia (geral ou raquidiana).
- A região genital é preparada com solução antisséptica.
- Introdução do Ressectoscópio:
- O ressectoscópio, equipado com uma câmera e fonte de luz, é inserido pela uretra até a bexiga.
- A bexiga é preenchida com solução de irrigação para melhor visualização.
- Inspeção da Bexiga:
- O urologista examina cuidadosamente toda a superfície interna da bexiga.
- São identificadas lesões, tumores ou áreas suspeitas.
- Ressecção:
- Utilizando uma alça de ressecção eletrificada, o cirurgião remove as lesões camada por camada.
- O tecido removido é enviado para análise patológica.
- A base da lesão e suas margens são ressecadas para garantir a remoção completa do tumor.
- Hemostasia:
- Pontos de sangramento são cauterizados para controle de hemorragia.
- Finalização:
- A bexiga é esvaziada e irrigada para remoção de coágulos.
- Um cateter vesical é inserido para drenagem e controle de sangramento.
O procedimento geralmente dura entre 30 minutos e 2 horas, dependendo da complexidade e número de lesões.
A RTU DE BEXIGA moderna conta com avanços tecnológicos significativos que melhoram os resultados e reduzem complicações:
- Sistemas de Visualização em Alta Definição (HD/4K): Permitem melhor identificação de lesões, mesmo as menores ou planas.
- Tecnologia NBI (Narrow Band Imaging): Utiliza filtros de luz que facilitam a visualização de vasos sanguíneos, melhorando a detecção de tumores.
- Sistemas de Ressecção Bipolar: Reduzem o risco de síndrome de ressecção transuretral (complicação da ressecção tradicional).
- Cistoscopia de Fluorescência (com Hexvix/Cysview): Um fotossensibilizador é instilado na bexiga antes do procedimento, fazendo com que as células tumorais brilhem sob luz azul, facilitando a detecção de lesões não visíveis em luz branca.
- Lasers de Holmium e Thulium: Em alguns casos, podem ser utilizados para vaporização ou enucleação de lesões específicas.
A recuperação após a RTU DE BEXIGA geralmente segue este curso:
Período Hospitalar (24-48h):
* O paciente permanece com cateter vesical (sonda). * É realizada irrigação contínua da bexiga para prevenir formação de coágulos. * Analgésicos são administrados para controle da dor.
- Alta Hospitalar:
- Ocorre quando o sangramento diminui significativamente.
- O cateter vesical pode ser removido antes da alta ou alguns dias depois (dependendo da extensão da ressecção).
- São fornecidas orientações sobre hidratação, medicamentos e sinais de alerta.
- Primeiras Semanas:
- É comum apresentar algum sangramento na urina, que diminui progressivamente.
- Podem ocorrer sintomas irritativos como urgência, frequência e desconforto ao urinar.
- Recomenda-se evitar esforços físicos, atividades de impacto e relações sexuais por 2 a 4 semanas.
- Acompanhamento:
- O resultado do exame anatomopatológico fica pronto em cerca de 7 a 14 dias.
- Uma consulta de retorno é agendada para discussão dos resultados e definição do seguimento.
Possíveis Complicações da RTU de Bexiga
Embora seja um procedimento seguro, a RTU DE BEXIGA pode apresentar algumas complicações:
Complicações Precoces:
* Sangramento: Mais comum nos primeiros dias, geralmente autolimitado. * Infecção urinária: Pode ocorrer devido à manipulação das vias urinárias. * Perfuração da bexiga: Complicação rara (1-5% dos casos), mais comum em ressecções profundas. * Síndrome da RTU: Absorção excessiva do líquido de irrigação, causando alterações hidroeletrolíticas (mais rara com os sistemas bipolares modernos).
- Complicações Tardias:
- Estenose de uretra ou colo vesical: Estreitamento que pode causar dificuldade para urinar.
- Recorrência tumoral: Especialmente em casos de câncer de bexiga de alto grau ou multifocal.
Seguimento Após a RTU de Bexiga para Tumores
No caso de RTU DE BEXIGA para tratamento de tumores, o seguimento é crucial:
Classificação do Risco de Recorrência:
* Baseada no grau histológico, estágio, tamanho, número de tumores e presença de carcinoma in situ. * Define a frequência do acompanhamento e necessidade de terapias adjuvantes.
- Terapias Adjuvantes Intravesicais:
- BCG (Bacilo Calmette-Guérin): Imunoterapia utilizada para reduzir recorrências e progressão em tumores de alto risco.
- Quimioterapia intravesical (como Mitomicina C): Utilizada em casos de risco intermediário ou como alternativa ao BCG.
- Cistoscopias de Vigilância:
- Realizadas a cada 3-6 meses nos primeiros dois anos.
- Espaçadas gradualmente se não houver recorrência.
- Podem ser necessárias por vários anos ou mesmo por toda a vida, dependendo do risco.
A RTU de Bexiga na Prática Médica Atual
A RTU DE BEXIGA permanece como um pilar fundamental da urologia moderna, sendo constantemente aprimorada com novas tecnologias. Sua importância é inegável:
- É o procedimento-padrão para diagnóstico definitivo do câncer de bexiga.
- Oferece tratamento curativo para muitos casos de câncer de bexiga não-músculo invasivo.
- Fornece informações essenciais para o estadiamento e planejamento terapêutico.
- Com as técnicas atuais, permite ressecções precisas com menor morbidade.
A RTU DE BEXIGA é um procedimento minimamente invasivo essencial no arsenal terapêutico da urologia moderna. Para pacientes com lesões vesicais, especialmente aqueles com câncer de bexiga não-músculo invasivo, representa não apenas uma ferramenta diagnóstica precisa, mas também uma opção de tratamento eficaz com baixa morbidade.
O desenvolvimento contínuo de novas tecnologias tem tornado a RTU DE BEXIGA cada vez mais segura e eficiente, permitindo diagnósticos mais precisos e tratamentos mais completos. No entanto, o sucesso do procedimento depende não apenas da tecnologia, mas da experiência e habilidade do urologista que o realiza.
Se você apresenta sintomas como sangue na urina, dor ao urinar persistente, ou se exames de imagem detectaram alterações na sua bexiga, não hesite em buscar avaliação especializada. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para os melhores resultados, especialmente quando se trata de potenciais tumores vesicais.
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